No outro dia ia iniciar um mero discurso que tanto insere mas nada diz, um discurso por escrito, mas desisti dessa ideia uma vez que o cansaço era mais forte. Hoje apetece-me fazer algo assim. Escrever simplesmente por escrever, para libertar uns ou outros sentires e umas ou outras palavras que aprisiono cá dentro.
E de que falarei?
Dos horrores deste mundo? Já os mencionei noutros tempos.
Dos relances de bondade? Também já os referi.
O que resta pelo meio? Resta a vida. A comum e banal vida, que sagradamente nos foi concedida. Aquela que nos acolheu desde o primeiro momento em que o espermatozóide entrou um contacto com o ovócito II e não nos deixou senão até à apoptose da totalidade das células constituintes do nosso ser.
Surge sem aviso prévio, não olha a superficialidades e nem se quer determina o seu destino, apenas aparece e faz-nos aparecer também, faz-nos ser e existir. E por mais tragédias e catástrofes que traga, é ela também que nos dá a oportunidade de sentir e vivenciar o que de melhor existe.
Digna de um extremo valor, a vida é o que faz com que exista tudo o que há para existir, pois sem ela não teríamos conhecimento de todo este conjunto de situações e factos, até das coisas que se encontram desprovidas da sua essência. Mas com ela, abrimos os olhos para um outro mundo, despertamos a alma para novas realidades e somos aquilo que está determinado sermos, mas que por nossa força podemos igualmente remodelar.
É a vida e somos nós. Uma relação absolutamente dialéctica.
É o mundo e o pensar, ligados um ao outro.
É o que é, o que tem de ser e o que acaba por ser.
E é tudo por hoje, mergulhando nesta madrugada.