segunda-feira, 28 de junho de 2010

Pegadas na areia


Uma noite eu tive um sonho...
Sonhei que estava a andar na
praia com o Senhor, e através do
Céu, passavam cenas de minha vida.
Para cada cena que passava, percebi
que eram deixados dois pares de
pegadas na areia; um era o meu e o
outro do Senhor.
Quando a última cena da minha vida
passou diante de nós, olhei para trás,
para as pegadas na areia, e notei que
muitas vezes no caminho da minha vida
havia apenas um par de pegadas na areia.
Notei também que isso aconteceu nos
momentos mais dificeis e angustiosos
da minha vida. Isso aborreceu-me deveras,
e perguntei então ao Senhor:
"Senhor, Tu me disseste que, uma vez que
eu Te resolvi seguir, Tu andarias sempre
comigo, todo o caminho, mas notei que
durante as maiores atribulações do meu
viver havia na areia dos caminhos da
vida, apenas um par de pegadas.
Não compreendo porque nas horas
em que eu mais necessitava de Ti,
Tu me deixaste".
O Senhor respondeu:
Meu precioso irmão, Eu amo-te e jamais
te deixaria nas horas da tua prova e
do teu sofrimento.
Quando vistes na areia apenas um par
de pegadas, foi exactamente aí que
EU CARREGUEI-TE EM MEUS BRAÇOS"

Mary Stevenson ou Margaret Fishback Powers
(a autoria divide-se entre as duas senhoras,
não se sabendo ao certo qual delas é a original autora do poema)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago 1922-2010

"... a morte vem antes da vida, morremos quem fomos, nasce quem somos, por isso é que não morremos de vez..."

José Saramago, "Memorial do Convento"



Em jeito de homenagem a este ousado e nobre homem que revolucionou e marcou profundamente a cultura portuguesa.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O Poeta da simplicidade

"Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus"

Alberto Caeiro (Heterónimo de Fernando Pessoa)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

À espera...

Caminho a passos largos para não me atrasar, pois há deveres a cumprir.
Pé ante pé, lá chego. Respiro fundo, olho atentamente os horários, interiorizo as informações analisadas e encosto-me. Como é bom deixar o organismo repousar.
Inclino a cabeça e deixo o sol banhar-me num dia extraordiariamente abafado, sem brisa que o sossegue.
Sei que não tardará ele há-de chegar.

Eu permaneço no mesmo local onde recuperei o fôlego. Imagino as vidas e as vivências que cada um alberga, os perigos passados, as alegrias encontradas, as semelhanças entre uma e outra história de vida que se quardam os estranhos com tanto em comum. São factos calados, murmúrios que não se expõem em esperas. A que desconhecido revelaria eu segredos, intimidades? Todos nós já fomos um dia estranhos uns para os outros, mas a ocasião presente não é a melhor e a sociedade, fornecendo as devidas normas tão intrinsecamente adquiridas pelos seus membros, determina que não se proporcionem essas trocas e estabelecimentos de confianças. E nós cumprimos, sem o saber conscientemente.

Com um objectivo em comum e com pressa, entramos no transporte que chegou fora de horas. Ele é o meio que nos conduzirá ao destino que escolhemos ou nos foi apresentado, através dele vagueamos por sonhos, fazemos vulgares viagens e continuamos caminho, em anonimato. Como é possível que haja tanto dentro de nós? É um completo mundo.
Pago o que devo pagar, porque nesta vida nada é de graça, e sento-me. Os pesos vão comigo, as vontades não me escapam e deposito total confiança no comum mortal que nos conduz aos locais por onde esperamos passar. Tudo é tão óbvio, tão natural e tão belo.
É nisto que o ser humano devia consistir, mas certo é que ele permanece um mistério ainda por descobrir.

Depois de uma longa espera, outra espera. Sorrio. Sempre vale a pena dar tempo ao tempo. Ele chegou, eu parti e sigo rumo ao que me aguarda.
Pelo espelho que nada reflecte e se apresenta transparente aos meus olhos vejo as ruas em actividade.
Os trabalhos dos homens esforçados que laboram serão compensados, mais dia menos dia. Nao creio que a justiça possa ser tão disfuncional.
E tudo valerá a pena, porque a alma não é pequena e Fernado Pessoa tinha toda a razão. Por agora, sei que tenho muito por que viver e isso sim, é o sustento de todas as minhas satisfações e sorrisos. Dou tempo ao tempo e quando me aproximo do destino, há alguém que me espera. Porque a vida é feita disto, de lutas e esperas. Uns por nós, nós pelos outros e até por nós próprios.