domingo, 29 de agosto de 2010

A prenda

Principiava a tarde fresca e eu lia calmamente, como é próprio de mim, um livro de longas páginas. Lia e lia, tentando chegar ao fim daquela história original e impiedosa, com o objectivo de descobrir a questão que me assombava desde o primeiro desfolhar.
Estava distraída pelo ar agradável daquele dia, pelo ambiente que me abraçava e me acolhia, quando ouço alguém a chegar. Consulto o relógio e compreendo essa vinda. Pelo som dos passos e das sacas, percebo que está perto e assim que ela sobe, eu recebo-a com um "Bom dia".
"Bom dia", responde-me, "Trouxe-te uma coisa." Logo penso nesse seu costume e sigo-a para ver o que me traz dessa vez. Uma camisola, um livro, um filme, um caderno,...? Um pequeno objecto que contém em si uma completa intenção.
Ela desvenda-o e eu recebo-o com gratidão, proferindo logo um "Obrigada Mamã!".
É a sua prenda ocasional que me proporciona alegria, não só pelo que é ou pelo que pode ser, mas também pela pessoa que mo dá. E o maior presente não é aquele material que ela me oferece, são os ensinamentos da vida que me divulga, e com os quais aprendo, são os seus conselhos sobre a conduta e o caminho a seguir nalgumas circunstâncias da existência, é a sua sabedoria e a amizade, únicas e inigualáveis. A maior prenda é ela e a família que com carinho me cria e me faz ser quem sou.
Mas mesmo assim, com o objecto na mão, abraço-a e beijo-a na face, agradecida pelo gesto, e em duas palavras, já expressas acima, agradeço por tudo, pelo bem material e imaterial que me doou com o coração.

Afirmo esta benesse casualmente, sem me cansar de a exprimir, mas agora fica gravada nestas palavras, porque a minha família é a melhor prenda que dos céus podia vir.

P.S. - Peço desculpa pelo excesso de sentimentalismo destes dias, mas é apenas um modo de estar meu.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Ó sino...

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O valor da amizade


"As pessoas entram na nossa vida por acaso; mas não é por acaso que elas permanecem."

(Alessandra Melo)

P.S. - A todas as boas pessoas que preenchem a minha vida. Estou grata por acolhê-las no meu presente e quotidiano e ainda mais pela sua existência.