Que disse eu? Deixei escapar esta verdade? Ah!!! O quanto me pesava no coração e ainda pesa. Eu disse. Eu disse aquilo que temia e temo. Eu soltei as palavras. E sinto agora o sol a esconder-se por de trás de uma grande e almofadada nuvem de tons cinzentos. O céu faz-me caretas mas não lhe ligo. Tornou-se um dia obscuro. Com as manhãs e tardes tão solarengas, depois das minhas palavras vem isto…
Espera. Talvez esteja enganado. Olha, caiu uma gota. Outra atingiu o solo acolá. Esta sagrada chuva só pode ser bom sinal. Como é bom senti-la! Agora que penso, enquanto pequenas gotas escorrem pelo meu pálido rosto e outras encharcam as minhas roupas e molham o meu cabelo negro e curto, este pode ser um sinal de Miriam. Porque não? Milagres acontecem. Não tem que haver explicação para tudo. E ela adorava chuva. Em dias assim, íamos ambos para o meio da rua como crianças estender os braços à Maria das pernas compridas, como dizia a minha querida avó. E ríamo-nos. O quão doce e inocente era a sua gargalhada!... E agora já não a vou ouvir ecoar pelas paredes, pelo meu coração… Mas… seria possível? Nah. Claro que não. Seria? Vou tentar.
- Miram, estás aí? És tu que mandas esta chuva? … Não vou obter resposta, claro. Que doido que estou. Escutando sol e o mar, fazendo pedidos ao tempo, esperando respostas de um outro lado, de um outro mundo. Enlouqueci de certo. O melhor é abrigar-me debaixo daquela palmeira à minha esquerda e esperar que esta chuva que me traz estes pensamentos ridículos desapareça, e não volte mais. O que ela me faz lembrar!... E o tanto que dói. Estou cansado. Estou saturado. Tanta inconstância dá cabo de mim. Pura e simplesmente cansado…
- Lancelote… Viste esta chuva? Ahahah!...
02 de Maio de 2009
Autoria de: Sara Silva.
2 comentários:
Gostei especialmente deste capítulo! Gostei da parte da chuva e quando ele pensa ter sido a sua amada a mandá-la! Está deveras lindo! Demonstra claramente sofrimento e a loucura deste homem perdido numa ilha, sozinho. :)
oh, o mundo é uma surpresa...o mundo é uma incógnita e a chuva às vezes parece ser o reflexo de alguma coisa não é?
que bonito.
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