terça-feira, 8 de setembro de 2009

"Intermitências da morte"

Terminei, recentemente, de ler o livro "As intermitências da morte" de José Saramago. Um livro questionador e deveras interessante, que aconselho a qualquer um a desfolhar. Assim, tentando suscitar a vossa curiosidade, deixo aqui dois excertos.

"Todos os jornais, sem excepção, publicavam na primeira página o manuscrito da morte, mas um deles, para tornar mais fácil a leitura, reproduziu o texto em letra de forma de corpo catorze dentro de uma caixa, (...) sem esquecer a assinatura final, que passou de morte a Morte, uma diferença inapreciável ao ouvido, mas que irá provocar nesse mesmo dia um indignado protesto da autora da missiva (...) Na tarde deste mesmo dia, como já havíamos antecipado, chegou à redacção do jornal uma carta da morte, exigindo, nos termos mais enérgicos, a imediata retificação do seu nome, senhor director, escrevia, eu não sou a Morte, sou simplesmente morte, a Morte é uma cousa que aos senhores nem por sombras lhes pode passar pela cabeça o que seja, vossemecês, os seres humanos, só conhecem, (..) esta pequena morte quotidiana que eu sou, esta que até mesmo nos piores desastres é incapaz de impedir que a vida continue, um dia virão a saber o que é a Morte com letra grande (..)"

"O diapasão regressara ao silêncio, o violoncelo recuperara a afinação e o telefone tocou. O músico sobressaltou-se, olhou para o relógio, quase uma e meia. Quem diabo será a esta hora, pensou. Levantou o auscultador e durante uns segundos ficou à espera. Era absurdo, claro, ele é qe deveria falar, dizer o nome, ou o número do telefone, provavelmente responderiam do outro lado Foi engano, desculpe, mas a voz que falou tinha preferido perguntar, É o cão que está a atender o telefone, se é ele, ao menos que faça o favor de ladrar. O violoncelista respondeu, Sim, sou o cão, mas já há muito tempo que deixei de ladrar, também perdi o hábito de morder, a não ser a mim mesmo quando a vida me repugna (...)"

2 comentários:

mímica disse...

Gostei. Principalmente da frase do artista que dizia que era um cão mas que só se mordia a si mesmo quando a vida lhe corre mal.

Sofia M. disse...

Nunca li um livro de Saramago...

Mas lembro-me bem da última vez que li Saramago... e não estava lá muito contente...
Aconteceu há cerca de um ano e pouco, no meu exame de português do 9º ano... Por isso, como deves calcular, esse momento não me traz boas recordações!!!! lolol
mas... lembro-me que na altura, apesar de atordoada, gostei do que li...

Quanto a este livro... Talvez um dia :)
Obrigada pela sugestão!

Bjinhos!