Cai gota a gota, empurrada pelos ventos do sul. E o meu ser sente-se capaz, desejoso de tudo mais que não pode, destendendo-se para além de si, desfazendo limites. Uma força, uma vontade, despoletada unicamente por estes tempos, em que de novo volta a chuva. E cada gotícula recorda ao espírito que ainda é possível se ausentar de si, que é legítimo se aventurar e se entregar à Natureza ou querer ser livre e poder, porque ela faz parte de nós, da pureza, da simplicidade. E abstraindo-me de assuntos terrenos, permito-me sonhar.
Há uma altura que se sabe que há muito para fazer, mas quando se inicia uma actividade e se lhe pega pela ponta, acaba por ficar pela metade. E aparentemente, de preguiça viva no corpo ou pura simples falta de vontade, nada parece ter sentido, mesmo que se defenda o caminho certo e se siga a verdade. Faço tudo o que devo, talvez não na proporção devida, mas nestes dias, e há dias e dias assim, em que quando se chega ao lar doce lar, ou até num canto daquele edifício onde passo horas, em que olhando o horizonte só consigo ouvir a voz que ecoa na minha cabeça:
"And breathe, just breathe, oh breathe, just breathe..." (Anna Nalick - Just Breathe)
E só desse modo alivío a pressão sobre o meu peito e consigo respirar.