terça-feira, 26 de maio de 2009

Ilha de realidades

Chegou o momento.
Já estrela da vida se ergueu e se pôs dezenas de vezes. Já descansei, já olhei, já ouvi. Já ganhei força para continuar a reflectir, para encarar o meu passado. E lá me faço eu de forte neste momento, encobrindo as mágoas desta realidade, e prossigo a incompleta (pois da última vez eu rendi-me ao vazio) sequência linear do meu pensamento. Sim, esqueci-me do coração, mas de qualquer das maneiras o mais importante é o que aconteceu. A influência que isso teve. A importância de um único acontecimento e as marcas de uns únicos segundos, de instantes, na vida de alguém. Ai! Se pudesse parar o tempo! Se pudesse voltar atrás!... Talvez invente a máquina tão falada e quebre as barreiras do impossível. Porque não? Com ramos, sonhos e magia talvez a consiga construir e se tal vier a acontecer, terei o gosto de a emprestar a quem lhe quiser dar bom uso. Nesta ilha onde se apresentam realidades, torna-se pouco provável essa hipótese da máquina do tempo, mas enfim, tenho de trabalhar a minha mente para algo e imaginar não custa. Bem, revivendo tempos passados, posso dizer que vivia uma vida normal. Trabalhava num local pouco interessante e não tinha a satisfação no trabalho que desejaria (à custa disto o levantar da cama era bastante penoso), tinha poucos mas bons amigos e sempre que regressava ao meu lar sabia que havia alguém com quem o partilhar. Estes últimos factos eram os que me providenciavam alegria, vontade de viver e de continuar. Ah!... Posso dizer que até era um sujeito feliz, embora que conformado com a rotina diária. Até que um dia cheguei a casa, depois de um exaustivo dia de trabalho, e parecia estar tudo igual, mas eu sentia tudo diferente. Até as flores, os tecidos, os móveis me indicavam isso. Até o ar exprimia que eu tinha razão no meu sentir. E no que me pareceu um instante, foi-me revelado o pressentimento, o acontecimento: Miriam morrera. E essa é a verdade que trago todos os dias no meu coração. Percorre as minhas veias e artérias e vai corroendo-as, vai corroendo o meu corpo, o meu ser, a todas as horas, a todos os minutos. É o que me deixa assim.
Que ilha de realidades esta, porra!

30 de Novembro de 2008 ; 24 de Abril de 2009 ; 02 de Maio de 2009
Autoria de: Sara Silva.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Ilha de vazios

A estrela da vida já efectua o percurso contrário dando lugar à Lua que outrora repousava. Com o vagaroso passar do tempo, e já com as energias restituídas, volto aos meus pensamentos. Porque não estaria eu à espera daquilo? O que me impedia de esperar tal coisa? A verdade é que não sou vidente, mas sendo a vida generosa para comigo, porque não estar à espera que algo de mau viesse? Continuaria loucamente esperando que ela apenas me trouxesse coisas boas? Sabia que não. Nunca a vida traz apenas felicidades, alegrias e sorrisos, também existem as tristezas, tragédias e lágrimas. No entanto, mesmo assim, não consigo explicar o porquê de não esperar que algo assim viesse, deveria estar tão longe das minhas imaginações acerca do possível, que nem se quer pus a situação em questão.
O meu coração, esse, havia pressentido que algo estaria para acontecer, contudo, eu não lhe dei razão. Ignorei-o. Tomei como um facto normal os seus batimentos acelerados e enlouquecidos, mas sei agora que ele poderia estar a dar-me um sinal, “aproxima-se algo terrível, aproxima-se algo tenebroso, aproxima-se uma tragédia”, me diria ele em cada batida forte que efectuasse. Se o tivesse ouvido… Se o tivesse escutado, talvez não estaria aqui nesta ilha de vazios. Sou um ser incapaz de escutar o meu coração, de descodificar as suas palavras, e ao que isso me levou. Desculpa coração. Tu avisaste-me. Desculpa. A realidade é demasiado negra para que possa continuar a vê-la com clareza. Não consigo pensar mais... Já fiz um esforço sobrenatural para reflectir sobre as incongruências desta minha vida, desta minha anterior vida. Continuarei com estas reflexões, que dão o mínimo de significado à minha existência noutra altura, agora as 400g de fardo foram restituídas e não tenho mais forças para continuar nestes monólogos da minha mente. Estou cansado e a estranheza persiste. Rendo-me à escuridão e ao vazio. Afinal, tanto regrido como faço progressos. Isto vai demorar tanto tempo como a evolução da criatura que deu origem ao ser humano dos dias de hoje. Tanto tempo, tanto tempo… E o que me espera, também não o sei, só o futuro o saberá.

29 de Novembro de 2008
Autoria de: Sara Silva.

sábado, 9 de maio de 2009

Ilha de Laranja

Vagueio agora por esta ilha onde estou preso.
O tempo não acatou as minhas ordens. Pedi-lhe, expus-lhe as minhas vontades mas nem por piedade ele me concedeu esse desejo. Por conseguinte, só me resta ter o fio de paciência (uma vez que só esse sobrou - os demais voaram pelos ares, afogaram-se em mares, desfiaram-se e até houve alguns que se perderam), e esperar que ele caminhe ao ritmo que tem de caminhar. Para já, ele já fez com que os sussurros se perdessem no infinito, a Lua fosse repousar nos cantos do universo, e as águas – conversadoras e belas como são – iniciassem outra conversa com outra estrela, a estrela da vida. Tons matinais de laranja se espalham pelo céu, pelas águas, pelas árvores e até atingem o meu rosto, finalmente ganhando eu um pouco de cor. Esta ilha agora é laranja e a manhã chegou. Mas a noite deixou muitas dúvidas. As ilusões e encantamentos, que voltaram à minha mente (mais uma vez) nessa negrura, impediram-me de viajar pela terra nos sonhos. Os sussurros quase inaudíveis dos elementos da Natureza e o silêncio inquietante que penetrava esses sussurros e envolvia todos os seres, também contribuíram para que tal acontecesse. E nessa insónia e nessa quietude pude perceber um pouco da realidade de um tempo passado, e como consequência, consegui ver uma parte da minha vida com mais nitidez. 400 g de fardos foram retirados de cima da minha alma e isso trouxesse-me mais calma, mais serenidade, que se reflecte neste texto que redigo. Pude entender que há certas coisas que se tornam inevitáveis, mas acreditamos sempre que nunca irão acontecer, porque nos fechamos a essas possibilidades e elas deixam de ser verdade para nós, tornando-se assim em mentiras. No entanto, não é um caso geral. Eu simplesmente nem pensei que algo assim pudesse acontecer…
O céu agora começa a perder esses seus tons alaranjados e adquire tons azuis. Está na altura de olhar de novo a natureza que nada me diz e nada me dirá (talvez), e mergulhar de novo no meu silêncio. Mais tarde talvez faça a vontade às minhas pálpebras e deixe-las descansar, aliás, o meu corpo todo pede isso. Já demasiado foi relembrado e aquela peça do puzzle não foi restituída. Ao menos já vivo para reflectir e isto é um feito conquistado.

28 de Novembro de 2008
Autoria de: Sara Silva.

sábado, 2 de maio de 2009

Ilha de emoções…

Encontro-me sozinho nesta ilha de emoções.
Olho o céu e ele nada me diz. Olho a lua e ela nada me diz. Vejo a estrela repousar sobre as águas cristalinas, sussurrando-lhe segredos. Aprecio a ternura adjacente àquela conversa, mas como não sou um indivíduo curioso, não permaneço muito tempo atento ao que é dito e recolho-me no meu silêncio. Esta paisagem nada me diz. Tudo bem que não sou um homem totalmente insensível, reconheço perfeitamente a beleza nela inserida, mas o significado disso não o sei. Perdi-me em feições, em expressões e em encantamentos. Perdi-me em ilusões e em vagos sonhos, esquecendo-me das cruéis realidades. Perdi-me e jamais me voltarei a encontrar, sem aquela peça que falta ao meu puzzle. No entanto, apesar desse vazio, permaneço nesta ilha de emoções, lidando com o que me vêm à mente, e existindo, meramente existindo, vivo a vida conforme me apetece e conforme o que me acontece. Não vivo para mim de certeza. Tempo passa, passa tempo!... É só o que peço. Porque pode ser que com a passagem destes minutos, horas, dias, semanas e meses, a estranheza regresse ao sítio de onde proveio e eu consiga, ao menos, viver!

17 de Novembro de 2008
Autoria de: Sara Silva.

Ilhas

Iniciarei uma pequena história dividida em monólogos, cada um com um título, sobre um homem, a sua vida, o que sente e como ultrapassa a sua dor. É uma história fictícia, mas em algumas partes assemelha-se à minha própria vida. Espero que captive o interesse dos que a quererão ler. Deixo já, por cima, o primeiro texto que elaborei há uns meses atrás.