(continuação...)
O seu coração bate, a emoção desponta. Os amigos próximos, com receio, acercam-se a ele, devagar.
- Assim que vieste, assim que te deixaste corromper pelos males do mundo… - Começa a Razão.
- … tornaste-te nalguém cruel, num ser que nem sequer reconhecíamos. Mas que habita dentro de ti. – Segue a Consciência.
E ambas completam as ideias uma da outra produzindo um discurso coerente…
- És capaz dos gestos mais bondosos, das acções mais sentidas, de usufruir do melhor que a tua existência te proporciona. Claro que nem tudo é perfeito, mas a natureza dá-te vida, a alma torna-te apto para puderes ser quem quiseres ser e Deus deu-te o livre-arbítrio para escolheres o teu próprio destino. Porquê desperdiçar esses dons em rancores, vinganças e actos violentos sem sentido? Porque destróis o planeta em que habitas, fazes guerras onde inocentes morrem, porque arruínas a vida de milhares de pessoas com atrocidades? Isso faz-te feliz? Não pode fazer. Pois a felicidade não advém disso… Apenas o prazer, o prazer egoísta que se enche com a sede de poder, do dinheiro, da autodestruição.
Não é esse o caminho. E sabemos que tu és melhor do que isso porque já o mostraste ser.
- Não! Sem maldade não há o bem, sem tudo o que apontaste de negativo não pode existir o retorno da moeda, a bonança após a tempestade. Que seria da lição se não tivesse sido antecedida pelo erro? Não haveria aprendizagem, não haveria a sabedoria que provém da experiência. – Remata o Argumento que depressa recebe cotoveladas dos que o circundam.
- Estás certo…. – Desanima a Razão.
- Toma! O Mal vence! – Regozija o grupo dos palavrões e os outros. – Na na na na na! – E mostram a língua, desafiadores.
- Quem me chamou? – Rompendo a multidão surge a palavra enunciada anteriormente. O Bem vê-o e desafia-o para um braço de ferro eterno. A Luta perdura nesse preciso ponto.
Depressa se criam duas frentes, deixando um fosso no meio da sala.
O Homem desce do topo e coloca-se ao nível de todos os presentes. Vai ter com o Microfone e pára no centro.
- Não sou perfeito. Há defeitos que me consomem, que me fazem ser quem não devia ser, mas que a minha vontade por vezes aceita. Não sou perfeito. Não actuo como máquina, não sou rigidamente objectivo e não sei ver o mundo a duas cores porque os meus olhos me mostram jardins de arco-íris. Mas não queria fazer isto… Peço desculpa.
As palavras movimentam-se em conjunto. Estendem os seus braços e dão um abraço colectivo ao Homem. E a festa retoma ao que era no início, com a alegria a contagiar bons e maus.
- Olha que ser humilde é uma grande qualidade que tu provaste possuir... – diz o Sentimento, comovido.
- Obrigado!
E assim o Homem consegue fazer par não com uma só palavra, mas com um rol delas, as quais se dividem em aspectos positivos e negativos que fazem do indivíduo alguém único. Ele difere de muitas delas, aproxima-se de outras, mas é naquela festa que encontra o seu lugar.
1 comentário:
Já há muito tempo,não lia nada tão belo.Deveras lindo e original.Continua.Fizesta com que o meu coração ficasse em festa.Beijocas.
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