sábado, 9 de maio de 2009

Ilha de Laranja

Vagueio agora por esta ilha onde estou preso.
O tempo não acatou as minhas ordens. Pedi-lhe, expus-lhe as minhas vontades mas nem por piedade ele me concedeu esse desejo. Por conseguinte, só me resta ter o fio de paciência (uma vez que só esse sobrou - os demais voaram pelos ares, afogaram-se em mares, desfiaram-se e até houve alguns que se perderam), e esperar que ele caminhe ao ritmo que tem de caminhar. Para já, ele já fez com que os sussurros se perdessem no infinito, a Lua fosse repousar nos cantos do universo, e as águas – conversadoras e belas como são – iniciassem outra conversa com outra estrela, a estrela da vida. Tons matinais de laranja se espalham pelo céu, pelas águas, pelas árvores e até atingem o meu rosto, finalmente ganhando eu um pouco de cor. Esta ilha agora é laranja e a manhã chegou. Mas a noite deixou muitas dúvidas. As ilusões e encantamentos, que voltaram à minha mente (mais uma vez) nessa negrura, impediram-me de viajar pela terra nos sonhos. Os sussurros quase inaudíveis dos elementos da Natureza e o silêncio inquietante que penetrava esses sussurros e envolvia todos os seres, também contribuíram para que tal acontecesse. E nessa insónia e nessa quietude pude perceber um pouco da realidade de um tempo passado, e como consequência, consegui ver uma parte da minha vida com mais nitidez. 400 g de fardos foram retirados de cima da minha alma e isso trouxesse-me mais calma, mais serenidade, que se reflecte neste texto que redigo. Pude entender que há certas coisas que se tornam inevitáveis, mas acreditamos sempre que nunca irão acontecer, porque nos fechamos a essas possibilidades e elas deixam de ser verdade para nós, tornando-se assim em mentiras. No entanto, não é um caso geral. Eu simplesmente nem pensei que algo assim pudesse acontecer…
O céu agora começa a perder esses seus tons alaranjados e adquire tons azuis. Está na altura de olhar de novo a natureza que nada me diz e nada me dirá (talvez), e mergulhar de novo no meu silêncio. Mais tarde talvez faça a vontade às minhas pálpebras e deixe-las descansar, aliás, o meu corpo todo pede isso. Já demasiado foi relembrado e aquela peça do puzzle não foi restituída. Ao menos já vivo para reflectir e isto é um feito conquistado.

28 de Novembro de 2008
Autoria de: Sara Silva.

4 comentários:

mímica disse...

Gostei! Venham mais textos destes! :)

Sara disse...

muito bom, mesmo mt bom! parabéns!

Rosélia disse...

«Há mais pessoas que desistem do que pessoas que falham.»

Henry Ford

(o teu mundo permanece em ti.)

Danilo disse...

mt bons os teus dois últimos textos