quinta-feira, 3 de junho de 2010

À espera...

Caminho a passos largos para não me atrasar, pois há deveres a cumprir.
Pé ante pé, lá chego. Respiro fundo, olho atentamente os horários, interiorizo as informações analisadas e encosto-me. Como é bom deixar o organismo repousar.
Inclino a cabeça e deixo o sol banhar-me num dia extraordiariamente abafado, sem brisa que o sossegue.
Sei que não tardará ele há-de chegar.

Eu permaneço no mesmo local onde recuperei o fôlego. Imagino as vidas e as vivências que cada um alberga, os perigos passados, as alegrias encontradas, as semelhanças entre uma e outra história de vida que se quardam os estranhos com tanto em comum. São factos calados, murmúrios que não se expõem em esperas. A que desconhecido revelaria eu segredos, intimidades? Todos nós já fomos um dia estranhos uns para os outros, mas a ocasião presente não é a melhor e a sociedade, fornecendo as devidas normas tão intrinsecamente adquiridas pelos seus membros, determina que não se proporcionem essas trocas e estabelecimentos de confianças. E nós cumprimos, sem o saber conscientemente.

Com um objectivo em comum e com pressa, entramos no transporte que chegou fora de horas. Ele é o meio que nos conduzirá ao destino que escolhemos ou nos foi apresentado, através dele vagueamos por sonhos, fazemos vulgares viagens e continuamos caminho, em anonimato. Como é possível que haja tanto dentro de nós? É um completo mundo.
Pago o que devo pagar, porque nesta vida nada é de graça, e sento-me. Os pesos vão comigo, as vontades não me escapam e deposito total confiança no comum mortal que nos conduz aos locais por onde esperamos passar. Tudo é tão óbvio, tão natural e tão belo.
É nisto que o ser humano devia consistir, mas certo é que ele permanece um mistério ainda por descobrir.

Depois de uma longa espera, outra espera. Sorrio. Sempre vale a pena dar tempo ao tempo. Ele chegou, eu parti e sigo rumo ao que me aguarda.
Pelo espelho que nada reflecte e se apresenta transparente aos meus olhos vejo as ruas em actividade.
Os trabalhos dos homens esforçados que laboram serão compensados, mais dia menos dia. Nao creio que a justiça possa ser tão disfuncional.
E tudo valerá a pena, porque a alma não é pequena e Fernado Pessoa tinha toda a razão. Por agora, sei que tenho muito por que viver e isso sim, é o sustento de todas as minhas satisfações e sorrisos. Dou tempo ao tempo e quando me aproximo do destino, há alguém que me espera. Porque a vida é feita disto, de lutas e esperas. Uns por nós, nós pelos outros e até por nós próprios.

4 comentários:

Danilo disse...

porque a vida e' feita disto

fa_or disse...

E abençoados sejam aqueles que sabem esperar, que nunca perdem a esperança, mesmo quando se lhe fecham portas, esperam sempre que se lhes abram uma janela.
Que haja uma janela que se nos abra, nem que seja só para ver uma paisagem bonita, já vale a pena :)

beijinhos

Cátia disse...

"Dou tempo ao tempo e quando me aproximo do destino, há alguém que me espera. Porque a vida é feita disto, de lutas e esperas. Uns por nós, nós pelos outros e até por nós próprios".

Bonito Sara! Gosto de te ler.
Beijinhos,
Ca

mímica disse...

Fantástico, gostaria de ter a tua esperança e confiança nesta viagem que é a vida!