Poderia escrever no outro espaço, no espelho da alma que revela alguns pensamentos meus e devaneios de cá de dentro, mas como a escrita de hoje traz consigo uma história, optei por escrever aqui.
Então, era uma vez uma rola. Pequena, atrevida e arrojada, provavelmente com a fome a dominá-la, abeirou-se da gaiola da rola que está cá por casa há anos e anos, e que não fugiu quando eu e a minha irmã a tentamos libertar, feitas defensoras dos direitos dos animais (embora tivéssemos de facto alguns desses ideiais).
Subiu para o topo dela, agarrou-se aos ferros com afinco e nem sequer se assustou quando, espantadas, nos deparamos com ela a tentar abicar-se ao comer da outra sua semelhante.
Espalhamos milho pelo pequeno pátio e estendemos uma tigela de comida de cão com água, a servir de bebedouro, e a malandra não arredou pé, nem quando estava satisfeita.
Cirandou, cirandou... e desapareceu.
Pensamos que já deveria ter regressado ao ninho ou para junto do seu grupo, mas no dia seguinte voltou a aparecer.
Mais uma dose de comida, de água, bons tratos, muita meiguice por aquela pequena criatura.
E foi vindo, uma vez e outra. Ficou freguesa da casa, dos luxos oferecidos, sem custos acrescentados. É uma rola com olho para o negócio, sabe bem lucrar a troco de nada.
E dizem que somos os seres mais inteligentes? Perto da bancarrota, com ratings que nos mandam para o lixo e a sofrer crises mundiais, quando estes pequenos seres nos mais simples actos nos mostram a verdadeira inteligência.
Mas a história não fica por aqui. De tão freguesa da casa que se tornou, que se sentiu confortável a entrar por ela adentro sem pedir "com licença" (a fotografia acima colocada demonstra isso mesmo). E já o fez mais do que uma vez até os dias de hoje.
Também há direito a uma reviravolta! Um vizinho que achou que ela de tão próxima que estava, decidiu juntá-la à outra, aprisionando-a no mesmo espaço cerrado. Quando a encontrei, caminhando desastrosamente pelos ferros, apoderando-se da comida, decidi, após uma conferência com a minha mãe para saber do autor daquele feito, retirá-la daquele sítio.
Talvez por ter sido forçada àquele ambiente decidisse virar-nos costas, como dona do seu próprio destino, mas por uma qualquer força misteriosa ela permaneceu por perto.
Digam que é instinto animal, afirmem que as leis da sobrevivência se sobrepõem à mente da ave, mas há algo que me diz que a sua presença recorda uma outra, um regresso a casa, um entrar de novo pelas portas que é muito bem vindo. Porque se a sobrevivência falasse mais alto ela não deixaria que nos aproximássemos dela, nem permaneceria quieta junto a nós ou à nossa habitação enquanto executamos tarefas diárias e rotineiras, correndo riscos desnecessários.
Conquanto o tempo esteja de chuva e ainda não a tenha visto hoje (ou ontem, porque já passou da meia-noite), sei que se esconde por entre os ramos da árvore acolhedora, protegendo-se das gotas que caem do céu, aquele pequeno ser a quem já chamo de "nossa rolinha".
2 comentários:
A história está fantástica *.* os animais nunca se esquecem, sabem quem lhes quer bem e são muito inteligentes
Quando apelidamos algo de noss,é porque lhe encontramos sinais de pertença..."A nossa rolinha"assim é.Lindo post.Beijocas
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