quarta-feira, 13 de julho de 2011

Situação actual

"Hoje é tão difícil educar como ser educado"
Lídia Noronha
Nesta geração rebelde da qual faço parte, nesta geração à rasca que encontra condições difíceis e um futuro incerto face aos 12,6% de desemprego, cortes no salário e subida nos combustívieis, produtos e impostos e taxas de tudo e mais alguma coisa, é cada vez mais árdua a tarefa da educação.
São as liberdades cedidas por tudo e por nada em camadas cada vez mais jovens, que começam a sair à noite já durante o ensino básico, frequentando locais que legalmente não poderiam frequentar, ingerindo bebidas alcoólicas que são impostas pelas regras sociais do "fica bem" ou "se tu não bebes não fazes parte do grupo, és foleiro, és um cortes", e começam cada vez mais cedo... Apanhando bebedeiras só porque sim, para ver como é, porque nem dão conta da sua resistência corporal ao alcool.
E esses interesses sociais, de manter um grupo de amigos e de andar com aquele (a) ou com o outro (a), que gera conflitos e situações que são trivialmente exagerados. Isso conduz muitas vezes a disputas entre os próprios colegas da mesma faixa etária, onde se reage violenta e despropocionalmente à questão e à sua idade.
Depois há a crescente falta de interesse de prosseguir estudos, de concluir projectos, de possuir algum tipo de educação e de adquirir ou de procurar algum emprego. Faltando às aulas, comportando-se indecentemente durante as mesmas e com os colegas e os professores.
Ah... "porque é uma seca estudar." e "ninguém gosta de estudar", mas é com isso que construimos o futuro e sem o fazer, se as hipóteses de o conseguir já são tão baixas, então tornam-se praticamente nulas. Com os pais a ameaçar os professores "Se não passa o meu filho que é tão bom menino eu chamo...", e tão bom menino é que nem lá põe os pés e vagueia como marginal, porque temos de aceitar que quem não frequenta o sistema de ensino mas está inscrito, é porque ocupa o seu tempo de alguma forma e maioria dos jovens que nem lá põe os pés ou se escapam, muitas vezes acabam por se tornar marginais socialmente.
Quem possui um nível de escolaridade mais elevado apresenta mais hipóteses de singrar, de se tornar útil socialmente e até tem menor risco de desenvolver determinadas doenças, talvez porque conhece os riscos de adoptar comportamentos de risco. Há estudos que o comprovam.
Também é facto que os próprios funcionários e professores notam uma diferença entre a geração mais nova e outra, poucos anos mais velha. Os miúdos tornaram-se insolentes, o "posso, quero e mando" está mais presente que nunca e se não obtiverem o que querem, as birras acontecem e as ameaças e injurias às pessoas a quem as dirigem vão-se tornando frequentes. E os paizinhos julgando que os seus filhos são uns anjos, quase idolatrando-os, raramente assumem que eles têm defeitos e então mimam-nos, agravando a situação, culpando os outros por tudo o que ele não conseguiu.
Ou então são tão ocupados ou amam tanto os seus filhos (ao contrário) que nem ligam a essas questões e abandonam-nos nas insituições, entregam-nos à sorte da vida e esperam que os outros que os criem. E poucas vezes arranjam forças de se tornarem indivíduos decentes, lutando por si próprios sem afecto dos que o deveriam ter por ele. Por vezes, encontram a amizade, a preocupação dos outros e sobrevivem.
Mas que sociedade é esta em que a geração emergente se abandona ao ócio, ao mimo e ao trabalho dos pais? Quedando-se pelos meios virtuais, pelos jogos, já quase nem sabendo se quer o que é um livro com folhas de papel. Criados num mundo de facilidades, onde se compra, se faz amigos, se namora e se casa pela internet?
E onde se esbanja dinheiro pela sede de consumismo? Ou se arranja forma de lucrar praticando a delinquência?
Que é dos valores do passado? Do respeito, do esforço, da responsabilidade...? Ficaram esquecidos pelo facebook ou foram os pais que se esqueceram de twittar sobre isso para a mensagem entrar na cabeça dos filhos?
Será que as vidas apressadas, dos empregos exaustivos que permitem ganhar o pão, não permite o tempo em família? Ou mesmo em casa cada um fica no seu canto?
Dizemos que somos uma geração à rasca, concordo em certo ponto com isso, porque até pelas notícias que os telejornais sempre teimam em acentuar conseguimos ver a grave situação em que está o país e que quem paga são os nossos pais e depois seremos nós, se é que já não o somos, com o governo sempre à margem, ilibado... Mas não nos podemos esquecer que uma parte de nós também contribuiu para isto. Com as fraudes, os enganos, os jogos, os golpes...
E ainda se acredita na nossa geração. Eu acredito que uma boa parte poderá trazer melhorias. Acredito que algumas pessoas que conheci e que conheço poderão contribuir para melhorar toda esta situação, pelo exemplo que dão, pelo trabalho e empenho que demonstram, pela ambição saudável que os leva a ter objectivos de vida e a lutar por eles.
No entanto, há aquela onda que se mantém na sombra desse pequeno mar de gotas que forçam a corrente a andar para a frente, enquanto aquelas a sugam para trás.
O problema reside na educação, no criar com amor, incutindo valores e crenças, e todas as ferramentas que levam ao crescimento e formação pessoal adequados. Muitas dessas ferramentas estão distorcidas, enferrujadas, e de tanta ferrugem que têm e de tão habituadas que as pessoas estão, ou pela mentalidade que não as permite ver isso, já nem se apercebem do que é errado. Por isso, para mudar toda essa linha de comportamentos, atitudes e mentalidades, é preciso, primeiro uma acção correcta dos pais, porque sim, cabe aos pais a educação dos filhos. As bases aprendem-se e estruturam-se em casa e as lições aprendem-se com os momentos, com a vida e para saber interpretá-las é preciso ter a consciência devidamente formada e os valores apreendidos e vincados. Sem valores não se vai a lado nenhum... a não ser à cadeia. E sem isso, quando os estragos já foram feitos e as atitudes grosseiras e insolentes já quase não têm remedio, quando os pais tentam reverter a situação e já quase não há volta a dar, ou se esses nem se deparam com a problemática que assola a personalidade dos seus rebentos e outros detectam o problema, muitas vezes os jovens recusam-se a serem reeducados, julgando ter tudo aprendido e sabido, não conhecendo os riscos que muitas vezes os seus comportamentos acarretam. Portanto, de facto, hoje em dia é tão difícil educar e também ser educado.

4 comentários:

Andreia Morais disse...

Este texto está muito bem escrito, com as ideias muito claras; está fabuloso. Concordo inteiramente com o que li, do inicio ao fim!

Sara S. disse...

Ainda bem que houve alguém com a paciência para o ler. Obrigada :D

Andreia Morais disse...

Muito obrigada pelo comentário que me deixaste no meu blog pessoal, mas também no blog que dedico ao Porto e ao Quaresma.
É muito gratificante!

TITA disse...

Estes jovens têm uma memória de fazer inveja.Tu deves calcular porque digo isto...Uma boa reflexão originou esta frase da Lídia.Beijocas.