segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Conversas Inventadas... IX

- E quantos os segredos que contigo partilho!...
- Ter-me-ão sempre ao dispôr para isso.
- Para mais que um mero monólogo?
- Se me julgares ao teu pé, se me sentires perto, não será monólogo.
- Basta isso?
- Só isso.
- Então prolonguemos estas conversas pelo tempo... Que sejam mais que inventadas! Que sejam loucuras realizadas, o sustento da alma.
- Que sejam...
Sentamo-nos de frente uma para a outra e num olhar revelamos tudo o que ficou por dizer e o que há para dizer. E nada mais é necessário para completar este cenário.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Conversas Inventadas... VIII

- Estes dias têm muitos males... Mas é nossa função descobrir os bens que os mesmos inserem.
- Como vislumbrar o arco-íris no meio da tempestade e inconstância meteorológica?
- Exactamente.
- Ah!... Se fosse fácil fazer isso, se o mirasse em todos os contextos de dificuldade...
- Seria sinal de presença apaziguadora. Conheço essa sensação que procuram.
Surrurando, digo:
- Shh...É segredo... É uma busca do intímo.
- Fica entre nós então.
- Obrigada.

Conversas Inventadas... VII

- Há que saber lidar com elas, trazendo ao de cimo todas as nossas capacidades, todas as nossas forças.
- Triste do dia em que se tornam necessárias.
- Feliz do dia, pois é da maneira que crescemos, que evoluímos como seres humanos e como pessoas. Faz parte da história de cada um.
- E que contos se redigem em folhas da vida...
- São aventuras em papel, traços irrepetiveis e únicos, com direitos de autor incluidos, que os póprios escritores desenvolvem, por vezes com a ajuda de uma mãozinha dali ou daqui, outras vezes por si só. E só isso já é outra história.
- Sabes o que acho?
Com ar traquina profere:
- Ainda não mo disseste.
- Oh! Pois... Se somos quase 7 biliões, sem contabilizar os outros seres vivos, e se o nosso planeta possui outros biliões de anos, onde viveram outras espécies e outros seres humanos ou pseudo-humanos, já imaginaste como deve ser o livro da humanidade e da biologia térrea?
- Nunca tinha cogitado sobre isso, mas deve ser muito denso e volumoso.
- E quem carrega esse peso é a Mãe Natureza.
- Coitada! Com os efeitos colaterais das nossas acções a sua alma jamais se endireitará.
- É o mal destes dias...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Conversas Inventadas... VI

- Nada se pode prever portanto resumimo-nos às probabilidades e ao acaso. Mas a ciência tem o seu quê de certeza, repudiando o aleatório na busca das verdades mutáveis.
- Sim, nesse campo (e noutros quiçá) podemos considerar isso.
- Mas sabes o que é misterioso nos seus contornos e modos de acção?
- O que reúne tais condições?
- Deus. O dito Senhor Lá de Cima de que falávamos há pouco, com o dito respeito adjacente.
- É uma perspectiva interessante. Lá está, há a certeza de uma entidade superior ser de existência incerta. Uma excepção ao "aleatorismo".
- Essas questões são estranhas. Mexem com tantas crenças, com a fé e a espiritualidade. E é estranho porque desconhecemos as faces, os rostos e o corpo, porque tudo é encoberto. E já dizia um professor meu que "Estranho é Deus porque é misterioso". Talvez tenha a sua razão.
- Se calhar isso suscita fascínio, é uma característica atractiva dessa figura divinal que nos leva a crer nela. Mas há questões que nos transcendem, necessidades superiores a nós que nos levam a isso.
- Necessidade de conforto, de esperança, de confiança...
- Sim.
- Em suma, a necessidade de bem-estar próprio e de equilíbrio com o meio que nos rodeia e onde nos inserimos. Em dada altura, inevitavelmente, ela surge.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Conversas Inventadas... V

- São os pequenos gestos que constroém o amor.
- Foram esses mesmos que me levaram a sentir isso por ti, para além da ligação biológica que partilhamos. E permanece exactamente igual àquele momento.
- Eu acredito.
Cogito internamente. Depois exprimo-lhe o que me vai na mente.
- O amor, essa força divinal, que movimenta céus, mares e montanhas, faz-me também questionar as forças superiores que nos movem, que nos conduzem e que, em suma, actuam sobre nós. Tu ainda crês nelas?
- Creio na força que cada um possui, no Deus próprio que habita no âmago da alma e é fonte de esperança, guardando em si o princípio dos grandes actos do Homem. No entanto, defendo igualmente a existência de uma entidade superior, mas não tão rigída nem controladora como a tomam.
- Lembro-me de pensar assim. Agora... Agora resta a fé que me move de modo incerto. Mas continuo a crer em Deus e na maioria dos princípios do cristianismo.
- Mantés-te fiel ao fascínio de infância. É impressionante como a idade te trouxe quase ao mesmo ponto.
- É verdade. Mas os caminhos são misteriosos. Há ganhos e perdas, há azares e sortes, vindos de súplicas ou do acto da Fortuna. E quantas vezes já atendeu aos meus pedidos!....
- Talvez porque são honestamente sinceros. Mas com mais oração ou menos compromisso, dependendo da sua fiabilidade como religioso, ninguém sabe aonde isso nos levará.
- São mistérios.
- Cada passo dependerá de outro, mas nunca saberemos qual o percurso que os mesmos imprimirão na fina areia durante todo o seu caminho. Nem no fim.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Conversas Inventadas... IV

- Não me consigo ausentar... Uma parte de mim permanece neste ponto.
- Então que a outra parte se ausente por ti. Talvez baste.
- Tem sido assim e para já ainda não me desfragmentei definitivamente... Há sempre um elemento coesivo.
Olho para o horizonte.
- Eu era para escrever sobre o amor na véspera do dia de S. Valentim, um dia especial por duas razões...
- Que uma delas seja um marco sorridente no percurso da vida.
- Ambas acabam por o ser.
- Estás certa, de facto.
- Eu era para falar disso, mas a ocasião passou.
- O amor sobrevive, vive ainda um pouco por todo o lado. Não é um dia que o determina.
- Certamente. Mas... será ele utopia?
- E o que é que não o poderá ser? Quem garante que a realidade não é utopia?
- Déscartes garantiu-o: "Penso, logo existo".
- Ciências não quebram os limites da mente, ela que navega por mundos inimagináveis, ilusórios até.
- E então e ele...
- Ele existe. Existe como nós existimos. Se formos ilusão, ele será ilusão, porque somos nós que o fazemos. Mas mesmo assim será um doce engano que acalenta corações, eleva espíritos, sustem vivências, aquele que procuramos e por algumas vezes encontramos.
- Eu tenho a sorte de o ter achado em momentos e dele ter permanecido.
- Sei que te escapou nalgumas ocasiões...
- Talvez nem o tenha sido, não na sua unidade, do eu e tu que formam nós. Mas águas passadas não movem moinhos.
- Outras águas correm para dar seguimento ao curso desse rio, onde serás barquinho resistente. Estou certa disso.
- Oxalá o seja... E sabes onde o achei com mais força e mais pureza?
- Não...
Volto-me e entrego um abraço de novo.
- Aqui.

(Iniciada a 13 de Fev.; finda a 17 de Fev.)

Conversas Inventadas... III

- De facto o sonho é um dos melhores remédios para as misérias.
- E como é bom enfrentar o que nos rodeia sem barreiras. Apenas nós e o pensamento.
- Verdade.
- Costumas fazer isso com frequência?
- A todo o tempo.
- Eu também me perco bastante nas minhas imaginações.
- Quando o coração é pleno de desejos, esses são enviados às células cerebrais a cada pulsar, tornando a mente num terreno fértil, propício ao crescimento de multiplos cenários.
- Então é assim que eles nascem. Sabes o que queria agora? Agora, o que mais queria era ficar aqui...
- Mas espera-te o mundo.
- O mundo é muito grande para um ser pequeno como eu.
- Pois é. Mas por algum motivo te colocaram nele.
- Eu sei...
- E eu continuo aqui. Continuaremos aqui nestas conversas.
Suspiro.
- Está bem. Eu vou. Mas volto.
- Cá te esperarei.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Conversas Inventadas... II

- Não tem.
- Exacto.
Um momento de silêncio.
- Sabes como isto começou?
- Um devaneio da saudade.
- Acompanhado de uma explosão de remoinhos guardados.
- Libertá-los tornou-se uma necessidade, eu sei.
- Pois foi. Não conseguia aguentá-los... E o que seria de nós se tivessemos que carregar este peso para sempre? Peso que se acumula dia após dia, hora após hora, em todos os momentos da nossa vida.
- Em dada altura ficaríamos com problemas nas costas.
- Ora nem mais.
- E a alma também se entortava, pois seriam muitas as gavetas que ficariam cheias de sentimentos, memórias, emoções...
- Chegar a esse ponto deve ser terrível. Aposto que não há metal que resolva uma alma entortada.
- Há sempre o desabafo, uma mão e ombro amigos ou até um sorriso que servem como remédios espirituais.
- Uma certeza indubitável.

- Ainda hão-de inventar doutores da alma e medicamentos para os tormentos da mesma.
- Já há. Temos os psicológos e os psiquiatras e alguns medicamentos como os psicofármacos que actuam a esse nível.
- Mas resume-se tudo à biologia, ao esperado, ao previsto. Se pudesse, um dia revolucionaria isso.
- Não duvido. Eras a nossa promessa desse futuro turbulento.
- Que bom é sonhar. Desejar, querer, desde que não em demasia, não compulsiva e obsessivamente. Sonhar, faz-nos ir mais além, quebrar as barreiras da realidade, do visível, ansiar por contextos diferentes. Sabes, este também pode ser um bom método para endireitar a alma.
- O quanto a endireito então...
Sorrimos.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Conversas inventadas... I

- Olá.
Um abraço, um toque, um reviver do passado.
- Diz-me, por favor, sabes o que virá?
- O que virá é incógnita. Segredo a sete-chaves nas mãos do Criador.
- Mas será bom?
- E o mau também não se pode tornar bom?
- Mas será difícil?
- Que seria da vida sem um pouco de dificuldade?
- Tens razão.
- A vida é sopa de momentos variados. Composta um pouco por tudo. Inesperados e esperados. Absolutamente imprevisível a longo prazo.
- Maldito futuro que nos reserva mistérios.
- Mistérios esses que se não fossem surpresas seriam incompletamente vividos e saboreados.
- As surpresas assustam-me. Não as temo, não as rejeito, mas abalam-me porque não me permitem saber como reagir.
- Ora aí está. Não penses, não planeies, apenas age com consciência, a consciência que possuis e que te tem guiado.
- Vou tentar. Mas não é fácil.
- E quem disse que o que não é fácil tem menos sabor?

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Revolução

A revolução de Jasmim floresceu, expandiu-se, qual flor que se sujeita à polinização e ao sabor do vento. Alastrou-se para o Egipto, a Siria, a Birmânia.
Outros tantos países assumem os contornos desse descontentamento, planeando acções semelhantes. No jornal estas palavras são repetidas, ouvidas e lidas vezes sem conta. Chegou a um ponto que o mundo se saturou e um pouco por toda a parte se tomam estas manifestações como exemplos.

Porque é que o povo português também não retira daqui as lições que deveria retirar e não se impõe perante os egoístas que governam esta nação? Mistério pouco difícil de desvendar. Como já dizia uma jovem bastante culta que seguia no mesmo transporte que eu, nós somos pacíficos, e isso tem as suas vantagens, sem dúvida, mas eles aumentam os impostos e nós nada, cortam no abono e nas majorações, sim porque os filhos deixam de ter doenças e as mães necessidades, e nós nada, retiram nos salários e nada... Vá que os professores ainda tomaram uma atitude, mas se fosse o país inteiro a mobilizar-se isso teria repercussões. Nem na greve geral no ano anterior houve uma grande adesão.
Isto porque eles cortam, eles ameaçam retirar umas dezenas se se faltar por um dia, vêm com estatísticas do desemprego a rondar os 11% (pouco falta para isso) e anunciam o quão difícil é arranjar emprego actualmente e o medo vem ao de cimo.
O povo torna-se refém dos ganaciosos, dos que enriquecem com isto tudo, porque ai Jesus se se cortar nos salários deles ou se se quiser diminuir no número de deputados. Vamos mas é impôr mais taxas, fazer com que se pague as scuts e obrigar os condutores a ter um estúpido aparelho onde o dinheiro tem um prazo de validade e se sume entre cá e lá.
Os lá de baixo que paguem mais pelos produtos básicos de uma alimentação equilibrada, sim, porque se quiserem recorrer ao serviço de saúde até gastam mais e isso é bom para nós, nós que cortamos nas despesas da saúde e colocamos atestados de 90 cêntimos a 50 euros. A nossa gente é rija, com toda aquela salitra do mar que navegou em tempos, por isso aguentam. E já agora também não precisam que 8 centros de saúde em Bragança estejam abertos no período da noite porque ninguém adoece a essas horas. Está tudo na caminha, obviamente.
E nós cá ficamos.
Os que jogam sujo, corrompem o sistema e ainda gozam com os demais, porque ficam com os subsidios e alapam as regiões traseiras nos belos dos sofás, conseguem fazer a sua vidinha. Mas quem trabalha e é honesto que se lixe...
Isto dá mesmo vontade de irromper por outras vias. Ainda por cima com o tempo que a justiça demora a actuar, se fossemos apanhados nessas acções ilegais, o crime prescreveria antes de ir a julgamento.
No entanto, alerto que isto não é um incentivo à ilegalidade, mas sim uma vontade maior deque algo cambie. Pois o nosso país é um lugar bom para se viver, face ao que sucede no restante mundo, e ninguém o nega , mas descobertas as facetas e os casos daqueles o "comandam" e daqueles que não são dignos de habitar por cá, o cenário perde os seus tons de arco-íris para se resumir a uma ou duas gamas de cor.